Os desafios da mulher contemporânea no dia dos namorados

por Bruna Nogueira @brunacnogueira7

Na Bíblia, a mulher foi feita da costela de Adão, o que automaticamente atrela o feminino associado ao masculino em sua coodependência. Biologicamente, o corpo feminino foi feito para receber o masculino, os genitais são uma prova cabal disso. Mas será mesmo que isso é o suficiente?

Quando crianças, assistimos filmes infantis onde mostram que a personagem principal só se realiza quando o príncipe aparece para poder assim viverem os “felizes para sempre”. Isso não lhe parece contraditório?

Uma coisa que pesou para mim e tantas outras mulheres é essa palavra: SEMPRE. Será mesmo que ela é necessária? Muitas pessoas se submetem a relacionamentos abusivos por conta da semântica dessa palavra e de tudo que ela representa. Na própria prece do casamento e na Bíblia somos ensinadas a tolerar tudo (em todos) pela permanência do compromisso. O AMOR SUPERA TUDO! Será mesmo?

Somos ensinadas a atuar a nossa feminilidade, a performar signos que represente essa lógica capitalista que nos concerne. Compramos maquiagem e nos sujeitamos a cirurgias plásticas muito mais por imposição pelo padrão aceito da sociedade do que pela propriamente pela vontade em si.

É de suma importância a mulher exercitar sua potência, se perceber como papel atuante em sua vida e não estar a mercê de jogos psicológicos. Precisamos nos educar e descobrir nossos desejos, sermos autônomas na nossa própria sexualidade e ter a independência financeira para podermos nos bancar em um mundo que a lógica do dinheiro é o poder sobre os outros.

A sociedade castradora em que vivemos, na qual a mulher se encontra sujeita ao olhar de julgamento do homens e também de mulheres que são reféns do patriarcado é muito difícil estar imune de baixa estima. Nós todas somos corresponsáveis pela realidade que se sustenta.

A masculinidade tóxica para psicanálise se trata do recalque dos símbolos masculinos. Traduzindo: a ética regula nossas condutas para um bem estar social, mas nem tudo que queremos ardentemente é bem visto ou aceito culturalmente. O que fazemos com esses instintos reprimidos? Eles permanecem a margem do nosso inconsciente.

Para manter esses sentimentos guardados fazemos um esforço enorme, e só quando bebemos, sonhamos e com o uso de drogas podemos dar vazão a essas coisas que guardamos na nossa caixa de Pandora. Os filtros fogem do controle. O que causa automaticamente uma raiva contida, onde tentamos procurar bodes expiatórios e pessoas para culpar as nossas frustrações. E o elo mais frágil dessa dinâmica SEMPRE é a mulher, principalmente quando ela se encontra em outros padrões discriminatórios como pela sua cor, classe e sexualidade.

Para nos munirmos é preciso nos nutrir de amor pelos nossos próprios projetos e por si mesmo. Não podemos fazer do amor uma alienação e ópio da própria existência. Para Platão, buscamos aquilo que nos falta. Então, a carência é nada menos do que aquilo que não temos. O mito do amor romântico nos ensina a procurar em alguém aquilo que não temos para preencher o vazio existencial.

Eu te proponho fazer uma reflexão sobre essa lógica e se perceber como mulher inteira. Não tapar buracos. E sim voltar-se para si. A maior ferida narcisística da mulher é a rejeição, uma frustração que nos tentamos compensar com os outros. E nessa ânsia para evitar a frustração tentamos nos moldar nas expectativas alheias as nossas.

É preciso aprendermos a dizer não para esse tipo de comportamento que nos é tão habitual. Torne o não em seu mais novo SIM! Não tolere o abuso, o derespeito e, sobretudo, se COLOQUE COMO PRIORIDADE!

As mulheres não foram e nunca serão objetos! Nesse dia dos namorados eu te desejo o próprio reconhecimento de sua solitude.

Seja a mulher da sua vida. Esteja em um relacionamento consigo mesma. E siga em frente. Por amor a você e à sua história.

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